terça-feira, 25 de maio de 2010

Inclusão Digital

Antes de mais nada, é imprescindível que se consiga delimitar aqui qual é, de fato, o nosso objeto de estudo, e de que ponto de vista estamos partindo para iniciar o assunto. Desta forma, há algumas definições do que é inclusão digital e a mais básica delas é que estar incluído digitalmente é ter acesso a um computador. E é exatamente com essa definição que começam os problemas. Afinal de contas, só ter um computador que se pode usar é suficiente para se estar incluído na era da informação e do conhecimento? Há algum outro pressuposto que possa materializar essa inclusão? Há outros fatores que podem definir a exclusão que não só a possibilidade ou não de ligar um computador? Vejamos.

Em um mundo ideal, imaginemos que o Estado possui o poder e o orçamento necessários para instalar telecentros suficientemente distribuídos pelo país inteiro, com bons computadores equipados com o que há de mais moderno, e que abra as portas desse telecentro para quem quiser entrar. Assim, as primeiras pessoas vão entrando, um tanto quanto desconfiadas, tomando seus lugares na frente dos computadores e logo o primeiro problema desse mundo ideal aparece. Elas não sabem sequer ligar aquela máquina e, muito menos, usá-la. Então percebe-se que há um novo fator para que de fato essas pessoas possam ter acesso ao computador: saber usá-lo! Isso altera a definição anterior. Desta forma, Inclusão Digital é possibilitar o uso dos computadores pelas pessoas, dando a essas conhecimento para aperá-los. Assim, esses telecentros criados contam com professores bem formados e remunerados, que podem ensinar a todos como usar o computador.

O problema é que mesmo que esse mundo ideal existisse, ainda teríamos problemas. Imagine que todos tem como usar um computador e sabem fazer isso. Só que, se estes computadores não estiverem ligados entre si e com a grande rede chamada internet, haverá ainda um grande distanciamento dos novos usuários e todo o potencial que a inclusão digital permite. Assim, tudo isso deveria estar ligado em rede com a internet, o que altera mais uma vez a definição estabelecida sobre inclusão digital. Agora é possibilitar, por meio de estrutura e treinamento, que as pessoas possam utilizar computadores ligados uns aos outros e à internet. Pronto... agora sim, temos uma boa definição sobre inclusão digital.

Contudo, agora que todos podem usar computadores ligados a rede, eles olham uns para os outros e se perguntam: pra quê? Ora, se está tudo certo, se todos podem e sabem navegar pela grande rede, a questão primordial é referente ao motivo pelo qual fariam isso. E é exatamente aqui que entra a questão social do termo. Não basta apenas poder e saber usar. É necessário que se faça isso para um motivo, e este deve ser em favor de si e de sua comunidade. Portanto, chega-se a uma definição um pouco mais cautelosa e criteriosa: Inclusão Digital é o ato de dar acesso à tecnologias de informação e comunicação a toda a população, oferecendo também todas as condições necessárias para que elas utilizem computadores e todo e qualquer dispositivo digital afim de buscar melhorias em suas condições de vida e de toda a sua comunidade.

A inclusão digital é, deste modo, parte de algo maior, a inclusão social, o que está imbuído de outras consequências muito mais complexas do que somente o mundo ideal projetado acima. Em um país onde cerca de 10% da população é absolutamente analfabeta e grande parte dos demais é, de fato, analfabeto funcional, como pensar em inclusão digital? Em outras palavras, como possibilitar que as pessoas possam usar as tecnologias para alcançar avanços em sua condição social, se estas pessoas não sabem ler e escrever, ou mesmo que saibam, não conseguem organizar pensamentos em textos coerentes, nem conseguem entender o que lêem? Inexoravelmente, é impossível se pensar em inclusão, seja qual for a sua natureza, sem pensar em algo que precede tudo isso: educação.

Assim sendo, falar de Inclusão Digital sem englobar o conceito em algo muito maior é fazer um recorte que desconsidera todo o resto, ou mesmo considera que o tudo o que engloba o cidadão está funcionando perfeitamente. Não adianta vender computadores a preços acessíveis, ou investir em telecentros, ou mesmo equipar escolas com ótimas máquinas, se isso tudo não for parte de um projeto muito maior, que necessariamente está ligado à educação e à inclusão social.